domingo, 1 de julho de 2012


O UNIVERSALISMO EUROPEU

Vilson Dias Morales
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Licenciatura em História (HID 0174) – Trabalho de Graduação
07/07/12

RESUMO

  A história do sistema-mundo moderno tem sido, em grande parte, a história da expansão dos povos e dos Estados europeus pelo resto do mundo, os reflexos dos acontecimentos ao redor do planeta se enfocam cada vez mais em termos políticos, pois políticas de contenções frente a grandes eventos contra a sociedade cada vez mais são decididas por nossos líderes.
Vivemos em uma batalha iminente entre o bem e o mal, onde nossas vidas são decididas em um simples piscar de olhos, isto é, em um momento estamos sendo noticiados por guerras terroristas, em outro momento fazemos parte delas.
Direitos Humanos, choque entre civilizações e a negação de alternativas político-econômicas regem os princípios do Universalismo. Um universalismo questionável de valores, atitudes e ideais, pois este mesmo toma como base o berço da civilização, a Europa. Os parâmetros que são discutidos são os pré-estabelecidos pelo denominada Universalismo Europeu, isto é, sua ideologia, onde buscam-se alternativas para a fuga de pensamentos e a construção de um Universalismo Universal. A disparidade de verdades e valores da civilização é o enfoque a ser estudado, pois é necessário compreender quais são as influências necessárias para que determinadas decisões sejam tomadas.

Palavras chave: universalismo; europeu; civilizações.


1 INTRODUÇÃO

No pódio dos valores e virtudes, cada Estado utiliza as armas que pode para poder batalhar e assumir posições de liderança frente à cultura de outros Estados. A superação de uns sobre outros aparecem cada vez mais de maneiras distintas, sendo de forma econômica, política, cultural, ou até mesmo nos valores implícitos concentrados em cada uma delas, isto é, a maneira como concentra sua política relacional com outros Estados, ou a simples recepção de estrangeiros em seus países. Porém como determinar quem atua de maneira correta frente aos inúmeros valores da sociedade mundial?
            Remotamente há 519 anos, Cristovão Colombo frente às caravelas Pinta, Nina e Santa Maria chegou ao novo continente, hoje denominado América em 1492, seus costumes eram distintos dos apresentados no continente pelos índios americanos. “Um povo bárbaro, selvagem e que não sabe se portar frente à sociedade civilizada”, esse era o pensamento espanhol em relação ao contato com a nova cultura. De meados de 1500 até os resquícios hoje espalhados por este continente, muitos hábitos foram considerados errôneos, assim sendo extintos e impostos novos, onde quem continha o poder em mãos, fez prevalecer suas escolhas. Essa imposição de uma cultura sobre a outra, é cada vez mais comum, o que se distingue são as maneiras de defesa encontradas. A colonização feita pelas diversas etnias européias na América, África e Ásia extinguiu muitos costumes e foram impostos muitos outros, ou seja, é uma imposição arbitrária sem direito de voto, escolha ou se quer uma plebiscito, onde a diversidade de opiniões pudesse ser aclamada. Bartolomé de las Casas, sacerdote cristão espanhol acreditava que a política de expansão e colonização espanhola era correta e absoluta perante os índios, entretanto influenciado pelo frade Antonio de Montesinos, cuja opinião era desfavorável ao método de colonização espanhol, consentiu que a melhor forma de colonização e procriação das leis do Estado e da Igreja era de forma pacífica. E os espanhóis ainda consideravam o comportamento dos índios bruto. De las Casas perde sua influência com o emergir do príncipe Felipe, sucessor de seu pai no trono real espanhol. É nesse contexto que Juan Ginés de Sepúlveda com pensamentos e opiniões distintas de De las Casas, onde Sepúlveda considerava os índios como seres inferiores. Ambos foram levados a um debate, onde o resultado acredita-se desconhecido devido a uma imparcialidade de veredito do júri. 
            A exploração no passado reflete ainda no contexto mundial vigente (Wallerstein, Immanuel, 2007), onde certas culturas acreditam serem superiores a outras. Outrora nos dias de hoje o contexto econômico, que em épocas distantes não influenciava tanto. Não é necessário se remeter ao passado para vermos essa projeção de uma cultura massacrando à outra, ou seja, neste sentido, é recordar acontecimentos ainda recentes desta última década onde uma cultura confrontou a outra, como no caso dos latino-americanos barrados e escorraçados em salas escuras e com poucas condições de higiene nos aeroportos espanhóis nos anos de 2007 e 2008. A contenção de vestes muçulmanas na França em Abril de 2011, não deixa de ser uma forma de abdicação de uma cultura para conviver em outra, sendo que isso afronta os direitos de livre expressão. É preciso usar uma diplomacia de princípios neste caso, conviver com a diferença não é algo frustrante nem ameaçador à cultura nacionalista de um Estado nos dias de hoje, além de que, nem um país possui uma cultura pura, isto é, afastada de contato com outras, além do mais, é enriquecedor para ambos os lados esse confronto de diferenças, pois é a partir daí, que uma cultura híbrida é capaz de nascer e enriquecer cada vez mais.

2 DESENVOLVIMENTO

E esse afrontamento de culturas é ampliado cada vez mais, visto que o formoso Conselho de Segurança da ONU é formado por cinco membros permanentes, sendo eles Estados Unidos, Rússia, Reino Unido e França, onde estes possuem força para romper e criar sansões de segurança mundial, e outros dez membros temporários, renovados a cada dois anos, isto é, no mau termo das palavras, se os cinco membros estiverem de acordo em relação a algum evento em que suas opiniões sejam semelhantes, independente se esta opinião for a favor ou contra, eles agirão. Ou seja, de certa forma, o poder mundial está hegemonicamente interligado entre esses cinco membros. Embora houvesse uma desavença mundial por parte dos cinco grandes, a relação da cadeira a disposição dos 15 países deveriam ser renovada para que todos conseguissem exercer seu papel em contextos mundiais, visto que é Organização das Nações Unidas, e não Organização das Cinco Nações Unidas.
            Esse afrontamento de nações pressupõe uma intragável discussão sobre os Direitos Universais do Ser-Humano, sendo que o Artigo XIX da Declaração dos Direitos Universais consiste em: “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras, isto é, todos possuem o direito de manifestar sua cultura, opinião, expressão perante qualquer Estado, porém isso é recluso a cada estado, pois em determinados Estados, certas crenças e atitudes são considerados crimes, como a poligamia presente em tradições islâmicas(Grabianowsk) e absolutamente proibida em outros Estados.
            É algo incessantemente discutido em todas as nações, pois até onde o limite de liberdade de expressão de uma cultura não afronta outra? Qual o limite para determinados atos de uma cultura dentro da outra? São questões que toda a sociedade ainda enfrentará e decorrerão discursos por ainda muitos anos, visto que é muito mais fácil aceitar os erros dos outros, ocultando os nossos próprios. E enquanto essas discussões sobre a superioridade de uma cultura sobre a outra, ainda haverá essa barbárie invasão de ofuscamento de um Estado sobre o outro, de uma cultura massacrando outra, baseando-se em valores supostamente criados, para a ocupação de áreas de influência, onde todos como sempre buscam interesses próprios e colocam em segundo plano o pensamento coletivo. Uma citação dessas é exemplificada como a invasão ao Iraque pelos Estados Unidos, cuja finalidade ainda permanece implícita cercada pelos muros da Casa Branca, situada na capital do país, Washington.



3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Uma importante leitura interpretativa vem sendo realizada a partir de análises que buscam entender a instituição do saber eurocêntrico como uma matriz legítima de compreensão de processos econômicos, culturais e políticos, desde a gênese do que chamamos de Modernidade. Trata-se de uma leitura crítica que se posiciona numa perspectiva particular de análise da realidade, que tem possibilitado a relativização, ou mesmo a inversão de práticas, assim como de significados de categorias, fundadas na subalternização da vida de povos que entraram em contato com as forças advindas da colonização. Como exemplo disso situa-se, hoje, no campo da epistemologia, a necessária produção de conhecimentos que levam em consideração a pluralidade de sistemas de produção de saberes, particularmente aqueles voltados para a natureza1.
1 Boaventura de Sousa Santos, Maria Paula G. Meneses e João Arriscado Nunes - Introdução: Para ampliar o cânone da ciência: a diversidade epistemológica do mundo. In: SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Semear outras soluções: Os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p.32. A natureza, inclusive, tem figurado historicamente como uma metáfora da feminilidade, que na ideologia (da natureza) do pensamento ocidental consagrou uma perspectiva de dominação e romantização. Sobre a exterioridade da natureza fala Neil Smith quando analisa a forma como o pensamento ocidental opera de maneira dicotômica os conceitos de cultura (natureza humana) e natureza universal, de sujeito e objeto, criando uma natureza exterior que é “primitiva criada por Deus, autônoma; é a matéria-prima da qual a sociedade é construída, a fronteira que o capitalismo industrial freqüentemente faz recuar. Como árvores e rochas, rios e tempestades, a natureza está esperando para ser internalizada no processo de produção social” (Neil Smith, Desenvolvimento Desigual, Bertrand Brasil, 1988, p. 28). Ver também Clarence J. Glacken, Huellas en la playa de rodas:  
Essa visão eurocêntrica, constituída em parte pela idéia de progresso cientifico e tecnológico da modernidade iluminista, tem sofrido fortes embates decorrentes da constatação de uma diversidade de leituras de mundo, expressas por meio de práticas sociais, ou de cosmogonias, orientadas por saberes chamados de tradicionais, indígenas, camponeses que se encontram, em muitos casos, frente a situações de conflito por legitimação de formas particulares de produção da vida. O discurso de globalização, a consagração de uma geopolítica neoliberal que orienta as políticas ambientais, a transformação da natureza em mercadoria e, por outro lado, as mobilizações por reconhecimento de identidades coletivas, por exemplo, compõem um campo de lutas em que podemos encontrar as fronteiras discursivas da moderno-colonialidade, num plano epistemológico de interpretação do mundo.
Immanuel Wallerstein, pesquisador do Departamento de Sociologia da Universidade de Yale (Estados Unidos), notório estudioso dos processos que direcionaram a formação de um sistema-mundo moderno2, tem contribuído para uma interpretação das matrizes ideológicas do processo de globalização e instigado, de maneira relevante, outras leituras sobre a constituição da moderno-colonialidade3. Dentre as suas teses já defendidas, ancoradas na teoria de Karl Marx, consta a de que há uma unidade no sistema capitalista mundial, marcada, essencialmente, pela contradição trabalho e capital, onde a força de trabalho, a terra e a natureza, por exemplo, perdem seu próprio valor intrínseco e se transformam em mercadorias.
Sob esse signo canônico do poder do capital e dos laços (nem tão sutis) adornados em povos e territórios de, praticamente, todo o mundo, constituiu-se uma maneira bem peculiar de ordenamento do pensamento ocidental desde o século XVI, correspondendo também à base em que se erguem razões discursivas das ideologias que pregam a impossibilidade de um retorno ao eterno sentimento do mundo, perdido nas cosmogonias de povos e culturas que sofreram o peso do metal oriundo da formação desse mesmo sistema-mundo moderno-colonial.
Naturaleza y cultura en el pensamiento occidental desde la Antigüedad hasta finales del siglo XVIII. Barcelona: Ed. del Sebal, 1996; R. G. Collingwood, A ideia da natureza. Lisboa: Presença, s/d.
2 The Modern World-System, obra publicada originalmente em três volumes em 1974, 1980 e 1989. [Ed. Port.: O sistema mundo moderno. Porto, Afrontamento, 1990-1994. 2v.]
3 Aníbal Quijano and Immanuel Wallerstein. Americanity as a concept or the Americas in the modern world-system. In: International Social Science Journal. Paris: UNESCO, n. 134, nov. 1992. Ver também um escopo de leituras orientadas pela crítica à constituição de um sistema-mundo moderno que consagrou o pensamento europeu como expressividade “legítima” de saber. Dentre alguns autores e obras é possível destacar: Homi K. Bhabha. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998; Aníbal Quijano. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina, In: LANDER, E (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2005, pp. 227-278; Boaventura de Sousa Santos (org.). Semear outras soluções: Os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005; Arturo Escobar. La inveción del Tercer Mundo: construcción y desconstrucción del desarrollo. Barcelona: Grupo Editorial Norma. 1996; Arturo Escobar. O lugar da natureza e a natureza do lugar, In: LANDER, E (org.). Op. cit, pp. 133-168; Carlos Walter Porto Gonçalves. A globalização da natureza e a natureza da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. O universalismo europeu: a retórica do poder - WALLERSTEIN, I. pp: 186 – 190 188.

Da dominação de sociedades ameríndias ao Orientalismo - que posteriormente povoou o imaginário europeu e aguçou os debates entre intelectuais durante o século XX – a modernidade engendrada pela legitimidade narrativa e militar dos poderes europeus rumina processos históricos de interrupção de outras dinâmicas culturais e políticas. Os saberes instituídos em confronto com a racionalidade européia são provocados a tentar, nas palavras de Wallerstein, “recuperar a importância do homem e da humanidade nas decisões políticas e no caminho de uma verdadeira democracia vista como elaboração humana”, ou seja, caminhar no sentido de um “universalismo universal”.

REFERÊNCIAS
Www.revistaoikos.org/seer/index.php/oikos/article/viewfile/11/7, acesso em 19 de junho de 2012.

Www.scientificcircle.com/pt/.../universalismo-europeu-retorica-poder/, acesso em 17 de junho de 2012.