sábado, 24 de agosto de 2013

O ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS

Vilson Dias Morales
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
História (HID 0174) – História da África
08/06/2013

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo apresentar os métodos de abordagem do ensino de História na educação básica, sua importância para os alunos, e também o papel do educador de História e sua contribuição para a consciência crítica do indivíduo perante as transformações sociais.

Palavras-chave: História; Educação Básica; Alunos.

1 - INTRODUÇÃO

O estudo de História deve ter o professor como meio de ligação entre o conhecimento e o aluno, derrubando desse modo o paradigma de que História é uma ciência decorativa. Logo, faz-se necessário que novas maneiras de ser, sentir e saber o mundo sejam estimuladas no ensino de História, visando favorecer a formação do cidadão para que este assuma formas de participação social, política e de atitudes críticas diante da realidade que o cerca, aprendendo a discernir limites e possibilidades em sua atuação e transformação da realidade histórica na qual esta inserida.
O ensino de História nas séries iniciais do Ensino Fundamental tem passado por uma grande transformação, isso aconteceu a partir do momento em que ela foi desvinculada da Geografia, tornando-se uma disciplina especifica, com características próprias. Nas últimas décadas, o ensino de História foi consolidado em suas especificidades. Nas séries iniciais, a princípio, a criança não entende o sentido de história em seu contexto de temporalidade, este tema está inserido no currículo escolar e deve ser trabalhado para que então a criança comece a construir esta noção de temporalidade.
Nesta perspectiva o ensino de História nas Séries Iniciais, deve buscar envolver as crianças num sentido de valorização de sua própria história, alicerçando-se assim, para a aquisição de história local e do mundo. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997), um dos objetivos mais relevantes quanto ao ensino de História relaciona-se à questão da identidade. É de grande importância que os estudos de História estejam constantemente pautados na construção da noção de identidade, através do estabelecimento de relações entre identidades individuais, sociais. O ensino de História deve permitir que os alunos se compreendam a partir de suas próprias representações, da época em que vivem, inseridos num grupo, e, ao mesmo tempo resgatem a diversidade e pratiquem uma análise crítica de uma memória  que é transmitida.

2 – O ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS

O ensino de História nas Séries Iniciais e Educação Infantil devem promover a reflexão e cabe ao professor fazer com que esta reflexão seja efetivada, ainda que de modo tímido. O estudo de História nas Series Iniciais deve partir da própria história de vida do aluno, avançando para o estudo da história local que deve ser apresentada como algo vivo vibrante, capaz de despertar paixão e colaborar para a compreensão do mundo. Ressalta-se a importância dos PCNs de História e Geografia para o Ensino Fundamental, estes elucidam que o papel do ensino de História está vinculado à produção da identidade e que:
A opção de se introduzir o ensino de História desde os primeiros ciclos do ensino fundamental explicita uma necessidade presente na sociedade brasileira e acompanha o movimento existente em algumas propostas curriculares elaboradas pelos estados. (...) A demanda pela História deve ser entendida como uma questão da sociedade brasileira, ao conquistar a cidadania, assume seu direito de lugar e voz, e busca no conhecimento de sua História o espaço de construção de sua identidade. (BRASIL, 1997, p.4-5)

Neste sentido, o papel do professor é preparar-se para que esta construção da identidade seja estimulada, para que a História enquanto veículo de identidade e de memória jamais seja tido como decorativos e desestimulantes. Para que isto não aconteça faz-se necessário que na história ensinada, haja um consenso entre os historiadores, pedagogos, professores e políticas educacionais, no sentido de cuidar dos limites do uso do saber histórico factual e sua postura meramente reprodutora.  Assim, o ensino de História nas Séries Iniciais deve ter esse caráter transformador, despertando o aluno para a condição de sujeitos que fazem História ao longo do tempo e dos espaços. A construção de novas formas de intervenção no ato de fazer história precisa perceber a escola como uma instituição social plural, que se educa para a vida e para a cidadania, e que, portanto, segundo Fonseca (2008, p. 101):
Nesse contexto sociocultural e educacional processa-se de forma intensa o debate acerca dos paradigmas, das relações entre os padrões e níveis de conhecimento, das concepções de educação e da escola, o que evidencia a necessidade de repensar as práticas pedagógicas dos professores no interior dos diferentes espaços educativos. Isso não é novidade. Entretanto, há sim algo novo nessa discussão: a abordagem das formas e relações entre conhecimentos e metodologias. A meu ver, é aí que ganha força a idéia da inter e da transdisciplinaridade.

Corroborando com o fragmento acima, Kochhann (2007, p.70) destaca que a interdisciplinaridade na sala de aula:
[...] “é a possibilidade de elaboração de idéias harmonicamente equilibradas com as diversas áreas do conhecimento num processo de pensamento dialético alicerçada na alteridade.”.
.
Nesta perspectiva, o ensino de História nas Séries Iniciais deve promover a reflexão do aluno além de motivá-los a conhecer a história do mundo e do povo do qual fazem arte. Cabe ao professor promover situações para que o aluno critique e compreenda o estudo da disciplina como fator necessário para sua formação enquanto individuo.
É preciso fomentar a interdisciplinaridade a fim de dimensionar o ensino e aprendizagem de História bem como a construção do saber. Este saber específico se faz necessário para que se entenda a relação entre diferentes tempos, significando então reconhecer o valor do passado para o presente e o futuro. Desse modo, Terra e Freitas (2004, p7) assinalam que os professores de História:
Provocam reflexões sobre como o presente mantém relações com outros tempos, inserindo-se em uma extensão temporal, que inclui o passado, o presente e o futuro; ajudam analisar os limites e as possibilidades das ações de pessoas, grupos e classes no sentindo de transformar realidades ou consolidá-las; colabora para expor relações entre acontecimentos que ocorrem em diferentes tempos e localidades; auxilia a entender o que há de comum ou de diferente no ponto de vista, nas culturas, nas formas de ver o mundo e nos interesses de grupos, classes ou envolvimento político; enfim, são questões mais comprometidas em formar pessoas para analisar, enfrentar e agir no mundo.

Nesta ótica, o ensino de História nas Séries Iniciais torna-se relevante, já que as relações entre tempo e espaço também dependem da ação do homem em seu meio. Fazendo com que a História seja percebida na construção das identidades sociais.

3 – O PAPEL DO PROFESSOR NO ENSINO DE HISTÓRIA

O ensino e a aprendizagem de História no Ensino Fundamental se alicerçam no trabalho do professor, que deve ter o intuito de introduzir o aluno na leitura das diversas formas de informação, com a visão histórica dos fatos e dos agentes. Nesta perspectiva, o professor tem um papel fundamental na construção do saber histórico já que “a história tem como papel central a formação da consciência histórica dos homens, possibilitando a construção de identidades, a elucidação do vivido, a intervenção social e praxes individual e coletiva.”(FONSECA, 2005, p, 89). A finalidade principal da escola é a educação integral do indivíduo, reconhecendo a importância de contemplar o ser humano como um todo, estabelecendo uma conexão do indivíduo com o meio, entendido como ambiente próximo ou distante que influi na aprendizagem do estudante
A educação é um processo de aprendizagem contínuo e permanente, necessário ao indivíduo, favorece as relações sociais e também, é o meio pelo qual a sociedade se renova, constituindo-se ainda num processo de transmissão cultural. Com um papel importante na construção e formação do caráter do indivíduo, a educação tem uma função bem maior.
Assim, o papel fundamental do professor e da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades amplia-se ainda mais no despertar do novo milênio e aponta para a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos, conforme os PCNs (BRASIL, 1997).
A escola e o professor têm como princípio básico a formação dos cidadãos nas suas concepções mais amplas e democráticas. Nesse contexto, se faz necessário a construção de uma prática pedagógica que privilegie as diferenças existentes no próprio ambiente de sala de aula. Assim, segundo Caniato, (1997. p, 65):

A escola deve e pode ser o lugar onde, de maneira mais sistemática e orientada, aprendemos a Ler o Mundo e a interagir com ele. Ler o mundo significa aqui poder entender e interpretar o funcionamento da Natureza e as interações dos homens com ela e dos homens entre si. Na escola podemos exercitar, aferir e refletir sobre a Ação que praticamos e que é feita sobre nós. Isso não significa que só na escola se faça isso. Ela deve ser o lugar em que praticamos a Leitura do Mundo e a Interação com ele de maneira orientada, crítica e sistemática.

Neste sentido, o professor de História ocupa posição central na análise dessa conjuntura e na possibilidade de construir situações concretas de superação através da prática pedagógica por ele desenvolvida no interior do espaço escolar. Nesta perspectiva, Fonseca, (2003, p. 89) alerta que é preciso pensar a disciplina de história como “fundamentalmente educativa, formativa, emancipadora e libertadora.”
(...) o professor de história, com sua maneira própria de ser, pensar, agir e ensinar, transforma seu conjunto de complexos saberes em conhecimentos efetivamente ensináveis, faz com que o aluno não apenas compreenda, mas assimile, incorpore e reflita sobre esses ensinamentos de variadas formas. É uma reinvenção permanente (FONSECA, 2003, p. 71).

Assim, a aula de história possibilita a construção do saber histórico através da relação interativa entre educador e educando, transformando essa prática em ato político, no sentido de transformação consciente do fazer histórico. Nesse contexto, salienta-se a importância do professor ser também um pesquisador e produtor do conhecimento e não apenas um mero executor de saberes já produzidos.  Corroborando com o parágrafo acima, considero as palavras de Freire (1996, p. 29) que destaca que:
Não há pesquisa sem ensino (...) Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para contratar, contratando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.

Assim, salienta-se a importância do professor ser também um pesquisador e produtor do conhecimento e não apenas um mero executor de saberes já produzidos. Assim, o papel do professor, torna-se relevante no sentido de possibilitar a transformação de um saber histórico em um saber compreensível e atuante para a compreensão do aluno.  É papel social do professor de História do Ensino Fundamental munir os alunos de instrumentos para libertação. "O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros." (Freire, 1996, p. 59). Nesta linha de pensamento freiriana o ensino de História torna-se fundamental para a compreensão dos acontecimentos históricos do passado.
Nesta perspectiva, o professor de História tem o compromisso de construir uma educação pautada no paradigma holístico, com olhar crítico e sensível para processo de construção da História. Desse modo, o papel do professor de História nas séries iniciais deve acontecer na direção do diálogo em conjunto com os alunos e a comunidade escolar, constituindo-se desta forma em um processo educativo fundamentalmente democrático, construído em conjunto, balizado pelo desenvolvimento de capacidades de percepção, crítica e autoconhecimento com sujeitos de um tempo e lugar.

4 – O ESTUDO E ENSINO DE HISTÓRIA ENQUANTO ELEMENTO DE FORMAÇÃO DO CIDADÃO.

É importante considerar a contribuição da história no processo de construção do ser humano. Compreender esse processo é fazer com que o homem escreva sua história, produza cultura e se perceba enquanto sujeito histórico. O ensino de História possui papel relevante, na construção da cidadania e na emancipação social e política dos sujeitos. Dessa maneira, o conhecimento histórico considera diferentes povos e culturas em diferentes espaços e temporalidades na singularidade de suas manifestações.
Neste sentido o ensino de História estabelece um diálogo com a construção da cidadania implicando no reconhecimento do indivíduo enquanto ser histórico e com elementos que permitem compreender melhor a realidade em que estamos inseridos e a sociedade em que vivemos.
Igualmente, é necessário que os alunos identifiquem no processo de ensino e aprendizagem de História oportunidades para o desenvolvimento de uma atitude crítica com relação à sociedade, intervindo de forma consciente enquanto seres que fazem história e pertencem a uma época e espaços próprios. O sujeito constrói seu conhecimento do mundo e o conhecimento de si mesmo como sujeito Histórico.

O conhecimento é um conhecimento dentre outras formas de conhecimento da realidade, que está sempre se constituindo, nunca está pronto ou acabado. Assim, Borges (1987 p. 47-48) elucida que:

(...) a história procura especificamente ver as transformações pelas quais passaram as sociedades humanas. A transformação é a essência da história. Quem olha para trás, na história de sua própria vida, poderá compreender isso facilmente. Nós mudamos constantemente; isso é válido para o indivíduo e também é válido para a sociedade. Nada permanece igual e é através do tempo que se percebem a mudança.

Desse modo, o mais importante é lembrar que a tarefa urgente é refletir, juntamente com nossos alunos, que todos somos sujeitos e podemos ser agentes do processo histórico de mudanças e, ou permanências e podemos contribuir na construção da realidade. A escola deve educar para a vida desde bem cedo. O professor tem o direito e o dever de exigir que isso aconteça e deve aprender a se enxergar como elemento crucial para a formação do indivíduo que enxerga a sociedade como um espaço de realizações.

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que o ensino de história é importante porque nos fornece as bases para compreendermos o nosso futuro, permite-nos o conhecimento de como aqueles que viveram antes de nós equacionaram as grandes questões humanas.
A Educação é proporcionadora da emancipação dos alunos, promovendo a autonomia e a consciência crítica de todos envolvidos. E por esse motivo a educação deve ser propagada para todos os indivíduos, independente da sua nacionalidade, cor, religião ou classe social. O papel da escola e do professor de História nas Séries Iniciais é instigar no aluno a formação de uma consciência crítica e cidadã, agindo como uma mola propulsora para a formação de cada aluno


6 – REFERENCIAS

FONSECA, Selva Guimarães. Caminhos da história ensinada. Campinas: Papirus, 1993.
KOCHHANN, Andréa. Por uma pedagogia psicanalítica: as vicissitudes na formação de professores. Dissertação de mestrado em Educação com área de concentração em Psicanálise. Goiânia: 2007. 228 p.
TERRA, Antonia e FREITAS, Denise. Referencial Curricular de História da Fundação Bradesco. Págs. 2-12. São Paulo. Dez/2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. 1996. Paz e Terra
CANIATO, Rodolpho. Com Ciência na Educação. 3ª reimpressão. Campinas: São Paulo. Papirus, 1997.

BORGES, Vavi P. O que é história. S. Paulo, Brasiliense, 1987.

Nenhum comentário:

Postar um comentário